terça-feira, 17 de maio de 2011

Desabafo de um homem Solitário

Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos,um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí,como quem tudo repele,
-Velho caixão a carregar detroços-
Levando apenas na tumbal carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!



Vitinho Andrade

sexta-feira, 13 de maio de 2011


Minhas noites com Zaratustra


Como a luz poderia exercer outra função que não a de iluminar?
É o mesmo que exigir que a água que se precipita de uma cachoeira
não vá de encontro ao rio.
Algumas coisas simplesmente são e não tente achar explicações para o que não precisa.
O homem julga pois precisa dar valor a existência. Avaliar é criar.
O próprio avaliar constitui o grande valor e a preciosidade das coisas avaliadas.
Somente há valor graças a avaliação, sem avaliação seria vazia a noz da existência.
Mudanças de valores é mudança dos criadores.
Sempre destrói aquele que deverá ser um criador.
Shiva representa bem este conceito.

Por que o homem não consegue amar ao próximo como a ti mesmo?

Porque subverteu o amor.
Confundiu dependência com o nobre sentimento e ao responsabilizar outrem por sua felicidade esquece de conhecer a ti mesmo.
Quem não se conhece profundamente não encontra motivos para se amar de forma simples e pura. É normal que o ego entre e confunda tudo, misture as impressões.

Amar a si mesmo é também suportar a solidão e encontrar aliados nos pensamentos
que nos afligem quando não temos outra alternativa a não ser nós mesmos.
Amar a si mesmo não é considerar-se superior a ninguém, mas pode ser a percepção
de que nossa alma conversa com o coração. O que para alguns pode parecer bobagem, ao
entender-se torna a fidelidade a teus sentimentos uma riqueza imensurável.

Quantos de mim fui capaz de entender, respeitar, ouvir e conhecer?
Se não sei quem sou ao certo, ainda que conviva comigo há 30 anos, preciso descobrir
uma razão que me livre do egoísmo central e me coloque diante desta essência.
Uma vez descoberto esse perfume. Uma vez descoberta a chance de me amar.

Se não for capaz de te conhecer e assumir tuas fraquezas e tuas virtudes.
Se não for capaz de administrar teu ego e tuas necessidades internas, provavelmente
não será capaz de entender os anseios, os defeitos, as limitações e as virtudes alheias.
Logo não poderá amar o próximo como a ti mesmo.
O amor antes de tudo é o conhecimento e a aceitação.
Ao idealizar o outro ou algo sem respeitar suas características primordiais, alimenta
a conta gotas pequenas doses de frustração em tua carne, até que nada mais valha a pena ser vivido.
Ao banalizar o coração e a vida conheces então a amargura e o desprezo por teus semelhantes.

A que veio para este planeta?

Minha vida sempre foi repleta de conflitos e talvez por isso consiga viver e me adaptar tão bem a um cotidiano tumultuado, intenso e conflituoso. Como um guerreiro ou um soldado, encontrei uma zona de conforto na batalha, na guerra e desenvolvi um olhar que me proporciona momentos de pura racionalidade e pragmatismo e outros completamente passionais. Minha busca é saber usar tais ferramentas e tirar bálsamos de harmonia.

Entendo a dificuldade que outros têm de abandonar suas zonas de conforto e partir para o fronte em busca de alguma transformação. Abrir mão do conhecido e do confortável é o primeiro passo para tentar uma mudança. Sem dúvida nenhuma que é uma escolha. Como tomar a pílula vermelha do Matrix e passar e ver um mundo cru e deserto de realidades. Mas uma vez apaixonado e entregue a este objetivo o espírito se fortalece, as cortinas começam a cair, um enjôo inicial pode fazer com que vomite milhares de mentiras que tomava como absolutas verdades e passado este estágio, o equilíbrio parece um pouco mais próximo, a alma passa a fluir pelos poros e para alguns, esse pode ser o verdadeiro sentido da vida.

Encontrei-me fazendo o que venho fazendo e nunca fui tão feliz e tão capaz de fazer alguém feliz. Talvez algum dia consiga transcender algumas barreiras às quais meu ego ainda esteja disfarçado de virtude e nesse dia, encontrarei a porta para escolher entre permanecer sendo um ser vil ou quiçá algo que me transporte para um lugar mágico e sereno onde as diferenças se complementam harmonicamente.

Assim aprendi algo com Zaratustra.